Friday 10 September 2010

Cuspidora de lava




...e vai cuspindo lava ao passar, essa maldade esculpida em pedra e de pedra fria talhada, essa maldade que jamais amolece e nunca desiste,e nos atira contra as rochas num vómito de raiva e ódio mascarados por um sorriso falso de quem já não sabe ou nunca soube sorrir...tortuosa maldade essa, que por cegar na sua própria demência nem dá pela erosão...que lhe corroí os contornos,lhe abre socalcos na pele envenenada,que lhe empalidece a tez, perfumando os seus gestos de excrementos quais dejectos duma fera com chifres adornada...

Chafurda assim na vontade diabólica que é a sua... e em guerras premeditadas,em rios pestilentos de lama podre,ri, numa gargalhada que ecoa estridente e arrepiante, ri a besta... ri de tanto nos açoitar, de tanto nos querer mal, de tanto nos contrariar, de nos devorar o ser...

Quer ser como outro qualquer comum mortal, maldade estúpida e ingénua, e finge... Seu cheiro impregna o ar de enxofre num eco húmido envenenado, no céu assenta a pestilência dum bafo por si deixado...

O Sol brilha por cima de todo este teatro pela besta encenado... o Sol brilha, centelha de vida e luz, atento o Sol, atento ao seu escárnio envenenado, vai um dia, a luz decepa-la, e em milhões de pequenas partículas se irá tornar, e por tão pequena ser da força que antes tinha, nada mais irá restar...

Sil
Julho ´10

Tuesday 7 September 2010

Vesti-me de ti...





Despi-me dos velhos farrapos que teimosamente me toldavam a alma de negro, onde o cheiro nauseabundo a enxofre açoitava o ar, irrespiráveis... minhas ruas eram um pântano, de lamas movediças... onde minha alma chafurdava, onde meu corpo definhava... onde o meu Ser desistia...
Os dias eram um não mais terminar de noites... escuridão, o breu... onde o Sol nunca brilhava e nem as estrelas se atreviam a espreitar... era o pântano, pestilento, movediço, era a lama... a lama dos meus dias feito noites.
E ela... a alma morria, lentamente... devagar... morria, deixava-se ir... e escorregava cada vez mais por entre o pântano, sentindo a lama a entrar-lhe nas veias... a povoar-lhe os pulmões, petrificando-lhe o sorriso... congelando-lhe as emoções... e ela... ali permanecia, num lamento, num sussurro... habituada ao breu, á noite... tacteando com as mãos as paredes movediças... pedia para não mais voltar.

Certo dia feito noite, por descuido ou distracção... uma nesga de luz se esgueirou janela dentro... a medo, e ainda cega pla escuridão que habitualmente me envolvia, decidi fitá-la... á luz... olhei-a... de relance, pensei voltar a olhar... mas o medo de voltar a entrar na luz que um dia se apagou... e que sem pudor me deitou ao pântano... era tal o medo... que corri... de volta ao velho armário, de seu cheiro a mofo, rebuscando nas gavetas as dores e as cicatrizes que por lá guardava... e abracei-as, eram negras, frias, sem cor, mas eram minhas... e a essas eu já as conhecia...

E lá fiquei noites e noites... a acarinhar estas mesmas dores, e cicatrizes e as feridas... sem as lamber, sem as querer sarar... ficando assim, sangrando... ajudavam-me a matar a Alma... que agora já lutava por ficar.


Foi a luz bem sei... a luz colocou uma centelha na Alma, tocou-lhe... abanou-a de mansinho... como quem atiça uma fogueira que teima em se desvanecer... e saí do armário, limpei-me da lama do pântano... vim até á janela... e sentei-me... adormeci... acordei e esperei... e lá estava finalmente a Luz, desta vez feita de Cor... olhei-a de frente sem medo, um arco-íris de cor inundou o quarto... fez frente ao velho armário... e como que num passe de magia... trancou as dores, cicatrizes e feridas a sete chaves... e deitou uma a uma ao pântano... e a Alma não lutou, ao invés deixou-se banhar por aquela Luz intensa de Cor... tragou-a... sem medo... tomou-a em suas mãos… pintou-se com as suas Cores... e foi assim que me vesti de ti... no dia feito dia em que me devolveste a Cor!

Silvia 6/01/2010

Chegaste...



Assim como quem vem perdido, ofuscado por uma Luz que não sabias como seguir…
Cegava-te os olhos, essa Luz…baralhava-te os sentidos, secavam-se na garganta as palavras… como num grito mudo e repetido… não eram lamento, mas sim e apenas …um… eu quero sair daqui vivo!

Chegaste…
Assim como quem vem… de frio tolhido, um frio que não te gela as mãos… um frio… qual aguarela desbotada, cinzento de tempestade… que te corre no rio da alma, e espelha uma paisagem…quase lunar e assim de Lua despida.

Chegaste…
Assim… como quem chega, de batalhas mil… herói vencido, e depuseste as armas… abandonas-te o teu eu… nas trincheiras da derrota, ficando por lá, esquecido…
Chegaste… no breu da noite, trazendo… e apesar de tudo, trazendo música nos olhos… bandeira desfraldada ao vento, hino que entoava em tuas mãos… versos de cor… versos dum poema, que clama por libertação...

E acolhi-te, em meu regaço… e recebi-te em mim. Inundei-te da minha Luz e, guiei-te… soltei-te as palavras mudas, e as tuas mãos falaram…deite do meu calor e, aqueci-te… entreguei-te a minha Paz e, com isso, resgatei… o herói, que por trazer música no olhar… jamais se dá por vencido.

E a paisagem permaneceu lunar… sim, mas esta Lua pintava-se agora dum doirado que tudo iluminava e cada estrela no esplendor da sua cor… pintava a pastel o horizonte da Vida…

Sílvia 12/01/2010

E se...


o Amor tivesse tamanho… eu apelaria á imensidão dos Oceanos… á grandeza dos Céus…
á profundidade dos Mares… para te mostrar a sua medida
Se o Amor fosse composto de Cor… pintaria o mais belo mural… com a mescla das mais belas cores…
iluminado pelo Sol… envolto na doçura da Lua…
Se tivesse ainda aroma… poderias sentir a sua fragrância nos frutos e flores… num salpico de terra batida…
nas ondas que beijam as rochas…
Se o Amor tivesse som… seria como o cantar da Cotovia…
a dança das papoilas por entre a seara… ou ainda o saltitar da cascata de encontro aos seixos que a abraçam…

Luz… Cor… Aroma… Explosão… Sentires… Alma… Imensidão…
Sil - Fev ´10