Friday 11 March 2011

Dos cacos e outros demónios...




De súbito, um barulho ensurdecedor ecoou pela casa.
O chão tremia debaixo dos meus pés, os discos no móvel rolavam capa fora, os copos tilintavam na prateleira... e das paredes escorria um liquido de odor acre e sem cor.
Corri para o espelho, fitei-me uma e ainda outra vez. Alivio, o meu rosto permanece intacto, o mesmo, ainda que os meus lábios estejam arqueados formando um arco cujo os extremos rasam o meu queixo, ausência de sorriso, é tudo o que vejo de diferente ou talvez já não seja tão diferente assim, e até já me vou habituando...

Espreitei mais fundo no espelho, a alma a essa não a via, pois espelhos não reflectem almas, "caramba, tenho de conseguir ver dentro, mais dentro de mim", e volto a debruçar-me ainda mais fundo mesmo no fundo do espelho, de alma, nada... ou será que no meio de toda esta confusão, afinal nem alma tenho ou nada tenho na alma!?
Ainda em pé frente ao espelho, baixo os braços rente ao corpo, uma mão e a outra descem ancas fora, sinto como se as minhas mãos pudessem tocar os tornozelos... sensação estranha esta de me sentir um gigante a quem apenas lhe cresceram os braços.

Está frio, faz frio cá dentro e o sol brilha lá fora, o vento varre as folhas secas cá dentro e nem uma suave brisa sopra lá fora, cá dentro o barulho deixa adivinhar o som dum ruir de cacos, e lá fora, lá fora os edifícios continuam imponentes e erguidos... o som não vem de fora, o som não é mais que o ruir dos cacos soltos de mim.

Sil 11/03/2011

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